Apresentação - Aeiges

Sabe, existo nesse mundo a muito tempo, não em comparação a seres milenares aos quais já tive a honra ou o azar de conhecer, mas em comparação a um homem que nasceu em meio a um mundo regido pela lei da espada. Ainda me lembro de quando minha pele ainda era cheia de vida como a de uma humano comum, meu sangue corria livremente pelo meu corpo e minhas maiores preocupações eram arranjar um emprego para ajudar meus pais e conquistar a garota a qual era apaixonado nos meados de minha adolescência.

Apesar das dificuldades que eu achava que existiam naquela época, hoje posso ver que aqueles eram bons tempos, tempos de paz. Vivia em um pequeno vilarejo perto da poderosa cidade de Eterna, criada por homens e aqueles que eram os mais próximos de uma existência divina. Minha rotina se resumia a ajudar meu pai e os outros homens da vila a caçar, as vezes trabalhar nas plantações, tentar algo com a tal garota que eu gostava e quando me sobrava tempo treinar uma coisa ou outra usando uma espada velha e enferrujada que a tempos mais distantes já pertencera a meu pai.

Dia após dia, essa era a minha rotina, todos os dias, com algumas exceções pouco comuns, mais ainda sim existentes. E uma dessas ocasiões, foi o inesquecível dia em que um grupo mediano de mercenários, todos bem armados, chegaram ao vilarejo empunhando suas espadas, arcos e flechas, matando cada um a sua frente enquanto propagava fogo pelo vilarejo que aos poucos saqueavam. Ainda me lembro muito bem de cado ruído que percorreu por aquele lugar aquele dia. O som dos corpos caindo sobre o chão, de mães, pais, filhos, maridos e esposas chorando e gritando pelos seus entes queridos antes de os próprios perderem suas vidas.

Não cheguei a ver a morte dos meus pais, pois a casa onde eu morava com os mesmos desabara em chamas com eles dentro, mas em compensação vi minha primeira paixonite ser brutalmente estuprada e morta a minha frente, por aqueles bárbaros a qual hoje não tenho o minimo direito de julgar. Eu podia ter lutado aquele dia, ter enfrentado eles e provavelmente ter acabado morto, mas ao invés disso fugi como o bom covarde que sempre fui.

Corri o máximo que minhas pernas me permitiram antes de tombar ao chão com os pés descalços sangrando. Minhas mãos tremiam, estava em estado de choque, não sabia o que fazer, a quem pedir ajuda, se ainda valia apena viver. Nesse estado segui por dias que pareciam durar uma eternidade e mais um pouco.

Conforme os dias se passaram e parte do desespero junto, acabei por ir para Eterna, onde tentei encontrar ajuda, mas mesmo na cidade "santa", as pessoas não são tão boas para ajudar apenas mais um mendigo com uma historia provavelmente inventada. Logo, como era de se esperar, para não morrer de fome comecei a roubar algumas frutas, verduras, qualquer coisa, não importa o que fosse. Muitas vezes me dava mal, conseguiam me pegar e geralmente me davam uma boa surra a ponto de eu não conseguir me levantar durante dias.

E nesse ritmo, os dias foram se passando e com eles os anos. Quando estava para completar 2 anos que já vivia daquele modo em Eterna, conheci uma homem já de idade durante uma tentativa falha de roubar algumas frutas de uma loja qualquer. Ele não deixou o dono raivoso da barraca acabar comigo e ainda pagou o que eu havia roubado. Mais tarde aquele velho acabara por se tornar meu mentor e o homem que me salvou da decadência do homem.

Um antigo guerreiro aposentado, que hoje passava o resto de sua invejável vida em uma casa mediana fora de Eterna. Com ele, aprendi a manejar uma espada e a me virar em brigas onde não pudesse contar com uma. Ele praticamente me reeducou, afinal, depois de tanto tempo na rua agora parecia um animal. Quando completei meus 17 anos, já fazia 2 anos que estava sobre a tutela daquele homem e finalmente tinha decidido que iniciaria uma viagem pelo mundo de Aetherna, e com sorte, encontraria os mercenários que exterminaram o meu vilarejo.

Poucos meses após me tornar responsável por mim mesmo novamente, caminhava por uma das florestas que cercava a cidade de Eterna, quando escutei rugidos e gritos vindos de algum lugar. Lembro do susto que levei ao ver um garoto ruivo fugindo de um gigante de 19 metros de altura que parecia destruir tudo em seu caminho. Por pouco também nãos sou morto por ele, mas antes mesmo que pudesse respirar de alivio, novamente minha atenção é tomada por algo naquela floresta e quando vou atrás do que é, vejo a cena inusitada de uma mulher de longos cabelos platinados, sendo massacrada por um naga e a mesma fera de antes.

Em um impulso totalmente retardado, corri o máximo que minhas pernas permitiram e por incrível que pareça consegui salvar a garota. Garota essa que apesar de ter se tornado parte do motivo de minha existência nesse mundo, mesmo não intencionalmente me jogou novamente nas trevas. Rapidamente fiz amizade com ela e juntos, saímos no que era para ser uma simples missão que se arruma em uma taverna, mas ao fim da mesma, em meu dedo um anel negro se fazia presente assim como um arco extremamente poderoso nas costas dela jazia.

Com essas novas armas em mãos, várias aventuras se seguiram, fizemos amigos e muitos inimigos durante esse tempo a qual ficamos cada vez mais próximos. Mas como nem tudo na vida é arco-iris, essa tão poderosa arma a qual ganhei trouxe toda as minhas mais obscuras trevas a tona e eu decai para um profano e logo depois me tornei um demônio. Nessa época, lembro-me que enfrentávamos uma das maiores ameaças que já chegou a Aetherna, seres tão antigos quanto esse mundo, que pareciam ter recuperado seu interesse nesse lugar e decidiram simplesmente varrer tudo e todos dele.

Quase deu certo, afinal, foi nesse época de guerra que eu acabei por falecer por motivos a qual não consigo me lembrar, mas provavelmente a mulher a qual havia prometido me casar provavelmente sobreviveu pois por conta dessa promessa, dessa única promessa que não cumpri, minha alma demoníaca não pode ser sentenciada ao inferno e desde aqueles tempos ao dia de hoje vivo como um ser destinado a estar entre o mundo dos vivos e dos mortos, correndo atrás de algo a qual nem mesmo eu sei o que é.

E nessa vida nova como uma manifestação de puro éter, decidi simplesmente ser diferente do que era em vida e logo comecei abandonando meu antigo nome e aderindo ao nome de "Aeiges". Hoje posso dizer que não vivo mais, apenas existo. Motivos ? Nenhum, apenas tento descobrir o que aconteceu comigo quando ainda vivo e também o que aconteceu a mulher a qual um dia prometi um futuro. Com o tempo conheceu uma garota um tanto quanto estranha, que disse querer ser uma capitã e achando interessante a ideia dessa, se juntou a ela por um tempo indeterminado.