Biblioteca de Eterna

- Ah, depois eu pego... Está rolando mais coisas, posso sentir.
Saio correndo desfazendo minha espada indo em direção ao castelo.

- Klein, vamos andando! - Disse, a irritação em minha voz era bem explicita.

- Ta, ta, ta amorzinho -

Digo, tentando irritar mais ainda. Todas as barreiras se desfazem e deixo a adaga ali. Começo a caminhar para fora da biblioteca.

Virei-me bruscamente para Klein. - Engraçadinho você fera. - Meu tom era totalmente irônico.

- Ta, vamos logo "fera" -

Digo, tentando imita-la, sem sucesso pego a mão dela e a puxo para fora.

QUÊ QUE TÁ PEGANDO? - Ele diz, abrindo a porta com uma velocidade enorme e vasculhando o local por qualquer coisa que parecesse diferente ou digna de atenção.

- Narrador -

- Tá pegando que você tem que calar a boca grandão, isso é uma biblioteca, diga o que procura.

Um homem magro com aparência fraca, vestindo uma camiseta social branca de óculos falava, com cabelos medianos presos negros.

- A moça da taverna disse que eu encontraria uma batalha digna de minha altura por aquí, e que teriam algo pra mim. Não gosto de ser decepcionado. - Ele diz, meio que "intimidando" o homem magro a falar com rapidez.

- Não se preocupe, tenho algo pra você.
O homem sacava uma adaga e rapidamente cravava na garganta de Masserdsmitch.

Poderia ser mais um dos interessados em livros que provavelmente apareceriam em grande número. Poderia se não fosse pelo horário e pelas vestes, a senhorita Ghuleh caminhava calada com seu capuz cobrindo o rosto pálido como mármore. Não havia nada de interessante naquela noite, só os livros. Em meio as prateleiras passava os dedos longos em cada capa enquanto os olhos lagunosos se arrastavam pelas letras bordadas no couro. A quanto tempo se mantinha refugiada em uma floresta só com suas escrituras manjadas? Muito. Queria começar a falar, mas falar com quem? Ela tinha pessoas ao seu redor, especificadamente uma menina...

- Shh... Estamos em uma biblioteca.

"Little sister, só tem nós duas, essa tua maldita mania de ordem vai acabar te matando!"

A voz flutuava de sua nuca até seu ouvido, mesmo não tendo ninguém, normalmente respondia com simpatia mas hoje tinha raiva dela, muita raiva.

"Não adianta me ignorar, se lembra daquele dia da neblinavocêsabequeonevoeiroestáaquionipresentequandoo adoecedornãovêcuravocêsabequeonevoeiroestáatrásdevocêcomigofriofrioFRIOOOOO."

Hella poem as mãos no ouvido mas a voz estava dentro da cabeça dela, distorcida. Esbarra em uma das prateleiras com violência deixando alguns livros caírem.

Aquela era somente mais uma noite que o garoto dormia na biblioteca pública, era sempre a mesma coisa, lia livros e tocava seu violino imaginário até dormir. As pessoas sabiam que ele fazia isso, mas apenas sentiam pena e deixavam, ninguém sabia como ele conseguia ficar tanto tempo sem comer, nem mesmo ele. Algo incomodava o adormecido garoto, que se levantava de seu sono abrindo suas pálpebras levemente enquanto empurrava o chão para não cair, o pouco esforço para se levantar dos olhos de qualquer outra pessoa pareceria muito, pela expressão que o garoto fazia após dar seu primeiro passo, indo em direção ao odiado barulho que o acordou. O garoto percorreu dois corredores de prateleiras, o som não estava mais lá, mas ele parecia saber a origem daquilo, até que ele finalmente pode ver: Uma garota procurando livros. Aquela visão era um pouco de surpreender, a biblioteca costumava ser vazia, ainda mais no horário que ele dormia, esse era o motivo para ter estabelecido esse seu horário de descanso.
- Procurando algo? Eu posso ajudar.. - O garoto dizia para dentro e baixinho, ele não tinha muitas forças quando acordava.

- Que escárnio irmã, porquê diabos tá fazendo isso?

Ouve risos, era algo que mesclava o horror com a satisfação. A voz feminina ria. Então pega um dos livros caídos e joga, joga no nada.

"Só fala comigo na base da ameaça e..."

Some.
Outra voz.
Será que seria seu amigo? Caso fosse falaria tranquilamente, não em uma biblioteca, mas ficaria mas tranquila. O pior que não era, aquilo a deixou em pânico. Não era "ninguém" pois era uma pessoa de verdade. Realmente essa lógica não fazia tanto sentido. Ghuleh pega os livros que tinham caído no chão e os ajeita ignorando completamente a existência do outro, achou um dos livros interessante e o "abraça" se afastando das prateleiras e consequentemente da pessoa ali. Senta-se em uma mesa afastada e começa a escrever no grimório.

O menino apenas seguiu ela com os olhos, extremamente confuso com a situação. Parou de pensar sobre aquilo, pegou do seu bolso um fumo e o acendeu, caminhando até a porta da biblioteca.
- Cansei um pouco desse lugar.. - Ele disse baixinho.
Abriu a porta e colocou o fumo na boca, andou para o lado de fora sentindo um pouco de frio.

Não sabe ou simplesmente não se lembra quantas horas a fio ficou ali, estudando e escrevendo, parecia que não cansava e que sua concentração não se esvaia. Nada a infortunava nem externamente e nem internamente. Suspira e olha para o teto do local, que bonito. Os lábios negros riem quando percebe sua visão se alterando um pouco. Pisca, volta ao normal. Guarda as coisas, já tinha o suficiente, bem achou que precisava se refugiar em algum local. Sai dali.